
Era uma vez uma garotinha que se achava horrorosa porque “não era branca, não era loira, não era rica”…
Você pode substituir esses adjetivos pela sua realidade – porque é baixa demais, alta demais, sardenta, gorda, magra, e o que mais não couber dentro de um “padrão clássico de beleza” draconiano!
Ninguém escapa do julgamento crudelíssimo de uma sociedade com conceitos de beleza alucinados e castradores desde que o mundo é mundo!
Então essa garotinha cresceu (bom… eu cresci muito mesmo! 182cm!), sobrevivendo com o auxílio de “fugas mentais” (obrigada, meus livros queridos!), muitos ajustes das roupas que nunca caiam bem (obrigada, máquina de costura!), e, com o passar dos anos, vestindo o que chamamos de “carão”.
– Mas o que é o carão, Tia Mile?
– Criaturinha Imberbe, “carão” é aquela fisionomia que chega ANTES de você: não acredito muito nas fórmulas, mas se você fixar seu olhar num ponto, apertar um pouco como se fosse míope!, der uma boa segurada no seu maxilar como se tivesse o pior bruxismo do mundo, tentar imitar aquele sorrisinho do Bruce Willis, e introjetar que, se não fosse o Código Penal, você já teria escalpelado uns 3 ou 30 incaltos só no café da manhã por mera diversão, você está no caminho do “carão”.
Mas pensa comigo: que (diabo de) mundo é esse onde precisamos estar em guerra só por termos uma “aparência”? (“olá, Preconceitos, estou vendo vocês aqui, hein?!”)?
Pelo que me consta – e por favor, me corrijam se eu estiver errada! MESMO! – nós, seres humanos, somos dotados de um “corpo” – é o primeiro ponto estudado em antropologia filosófica na busca do entendimento do que é esse tal “ser” que somos! Sem um “corpo”, err… eu telefonaria para o Ghostbusters!

Se esse é um ponto fundamental e comum à nossa “existência”, e é o que nos “representa” no meio onde acontecemos, é logicamente injusto (pra não dizer que não há lógica alguma!) que sejamos cobrados por isso.
Quando entendemos que “somos”, antes mesmo de tentarmos nos compreender como “pessoa” (que vai envolver conceitos, aprendizados, “espírito, alma, transcendência”, o meio, etc, etc… preciso de filósofos, sociólogos, antropólogos e psicólogos aqui, por favor! Envolvam-se!), o corpo é fundamental.
O “julgamento” sobre o corpo, sobre sua funcionalidade, o estabelecer parâmetros para compararmos todos os corpos, tudo isso vem DEPOIS de compreender a sua existência, e que sem ele… não “somos”. (Err… Gasparzinho, Penadinho, meus queridos, por favor, não se magoem! Nada pessoal!).
Muito cansada de acordar e dormir com carão, rosnando pra todo mundo pra não ser ferida, fingindo ter uma auto-estima blindada, o que era uma estúpida mentira!, e que exigia um esforço sobre-humano! -, entendo com tranquilidade que o corpo tem uma função absolutamente fundamental – a EXISTÊNCIA! E isso é… perfeição: existir é perfeição.
Nesse momento, é possível parar de sofrer, e reduzir muito o sofrimento que se incute nas pessoas ao redor (cuidado, abiguinho! quem é julgado, julga!).
E desde então a auto-imagem, a imagem do outro, as representações imagéticas, e o design de tudo no mundo, da natureza, do urbano, do artificial, do suave, do grotesco, do compreensível, do incrível, do apavorante, do surreal, do cômico, do que é sorriso, e do que é tristeza, começou a ser “beleza” apenas e tão somente – e a simplicidade dos conceitos nos liberta! – por… existir.
Acontece algo mágico: o “julgamento” continua existindo… modelos, medidas e parâmetros não desaparecem; mas se tornam “leitura” para compreensão do que o outro lê conforme – ou não! – o que você emite, e não necessariamente quem você “é”. E assim, toda sentença perde a força da dor.
Foi nesse momento de “reajuste do meu olhar” que resolvi não ter nenhuma vergonha, ou restrição, e não aceitar mais nenhuma ideia pedestre ou com a intenção de me ferir, sobre o meu corpo ser ferramenta da minha representação no mundo. E também não vi razão de ver no outro nada além do que favorece o bem-estar, a saúde, e à sua particular beleza.
Em outro momento, vamos conversar sobre “o que é moda” (sem pretensões!). Mas agora convido você a assumir a SUA passarela; a entender que eu e todas as pessoas existentes, estamos também nessa passarela de representação no mundo, e que é um prazer indescritível tanto ESTAR nela, quanto ASSISTIR, da plateia, tanta beleza, tanta LEGÍTIMA beleza.
… e se a gente tropeçar, tudo bem! “É tudo nosso!” 😉